– Você não quer mesmo dar uma volta?
– Não.
– Sair de casa um pouco, talvez pegar a bike, dar suas últimas voltas pela cidade…pensa bem…
– Não, não quero. Não vou.
– Não dou dois meses pra você olhar pra trás e se arrepender de não ter saído nesses seus dois últimos dias.
– Não vou me arrepender…sério, pára. Já te disse que só saio daqui pra colocar o lixo lá fora e ir pro aeroporto.
Não é a primeira e nem será a última vez que tenho esses tipos de diálogo comigo mesma. A mania de sair brigada de uma cidade, como quem sái brigada de um relacionamento amoroso mal terminado, é algo que me persegue desde os 18. E lá vou eu mais uma vez, deixando todas as pontas soltas e mal costuradas, contas abertas, documentos por enviar, documentos por receber.
Claro, eu sei que não vai bastar dois meses para que eu perdoe essa cidade e ela se torne perfeita aos meus olhos de récem-chegada-outra-vez-seja-lá-onde-for mas torço pra que dessa vez seja diferente, que eu tenha amadurecido no meu jeito de brigar com esses espaços, torço pra que dessa vez eu esteja usando o pouco do racional que essa cidade não corroeu.
Não vou te maldizer mais, prometo. Nem vou falar de Berlin, meu flerte fatal. Acabou, tá acabado. Só me deixa sair daqui e recomeçar outra história logo. Não põe meu nome na boca do sapo assim.